História
TIBÃES A «VILLA TEUDILANES»
Tibães, freguesia do concelho de Braga, é uma terra antiga, rica de gente, de património material e imaterial, que ao longo dos tempos lhe conferiu diversidade e motivos de atratividade por ser uma freguesia com vocação turística, tudo por causa do seu mosteiro, um museu da arte barroca em Braga (igreja, claustros, sala do capítulo, jardins, cerca monástica, lago, capelas, fontes, escadórios). Todo este conjunto edificado é um festim para os sentidos e uma partitura barroca onde coexiste a cor, luz, movimento, proporção, harmonia, provocando emoções de meditação, exaltação e arrebatamento.
A sua história começa muito cedo, antes, ainda, da fundação da nacionalidade. Segundo a tradição historiográfica, Mire de Tibães (fruto da anexação in perpetuum de Santa Maria de Mire com São Martinho de Tibães), terra de ocupação milenar, foi fundada em tempos da monarquia sueva, local onde o monarca Teodomiro costumava descansar, quando se ausentava dos bulícios da corte bracarense, dando origem, no séc. VI, ao nome da freguesia, onde erigiu um pequeno ascetério, dedicado a S. Martinho turonense. Também o topónimo Tibães mergulha raízes na pré-nacionalidade, de filiação germânica e do período suevo.
Este verdadeiro ex-libris do Minho e do Norte de Portugal estende-se em comprimento desde a capela e monte de São Gens até à margem esquerda da bacia ribeirinha do rio Cávado, e, em largura, limitada pelas freguesias vizinhas.
A afabilidade das pessoas, com grande capacidade de acolhimento, anda de mão dada com a sua postura simples e coração enorme. A qualquer pergunta sobre o património da freguesia as pessoas desdobram-se em explicações, prontamente disponibilizadas, ora com mais ou menos certeza. É um daqueles locais que parecem estar escondidos com o único propósito de serem descobertos.
Desta pequena paróquia rural bracarense, com história e passado, sem tamanho, salientamos:
No século XI, Tibães era designada por vila rústica «Villa Teudilanes», uma antiga comunidade ou «vila onde há pouco foi fundado o mosteiro»;
No século seguinte, o conde D. Henrique e D. Teresa concedem ao mosteiro a carta de couto. A epopeia deste aglomerado populacional confunde-se com a sua sombra, com a história do couto e do mosteiro beneditino, pois por muitos séculos já conta de idade. Falar de uma é indissociável da outra, pois tudo acontece no mesmo espaço que foi governado pelo poder que tinha origem no mosteiro. Tibães era a residência do mosteiro, da Congregação de São Bento, dos monges e do Dom Abade;
A consolidação institucional dos séculos XII e XIII;
As ambições de padroeiros e nobres locais obrigando os monges a requererem a intervenção real e a obtenção durante a idade média de cartas de proteção de todos os reis;
A administração, até final do século XIV, por abades perpétuos e a mudança do regime abacial devido à ambição dos abades comendatários, ao disputarem a comenda, por vezes mais atentos aos bens materiais que à vida espiritual;
Em 1517, El-Rei D. Manuel atribui Foral a Tibães;
A reforma monástica, em meados do século XVI, e transformação em Casa-Mãe da Congregação Beneditina para Portugal e Brasil;
O esplendor e a obra dos séculos XVII e XVIII espelhados no ímpar conjunto monástico do Portugal barroco, adquirindo a configuração que usufruímos no momento atual;
A centralidade intelectual e cultural de Tibães, no séc. XVIII, onde sobressaía a arcádia tibanense (tibaniense), a rica biblioteca, o museu de pintura e a coleção de numismática;
As consequências das invasões francesas em março de 1809;
O «réquiem» do couto no séc. XIX, depois do fim dos senhorios decretado por D. Maria I, em 1790;
A passagem a mãos particulares e respetiva secularização no séc. XIX;
A degradação avassaladora do património no século XX;
Finalmente, a aquisição, pelo Estado, do mosteiro de Tibães e a consequente devolução da dignidade e beleza, através de um processo de recuperação patrimonial, a partir de 1995.
José Carlos G. Peixoto